PESQUISA – LIVROS DE AUTO-AJUDA PROFISSIONAL

  Os livros de auto-ajuda profissional são um grande sucesso do setor editorial brasileiro. É um dos segmentos que mais cresce, e é também o responsável por alguns best-sellers do mercado.
  Para entender melhor este fato, o Ateliê de Pesquisa Organizacional realizou um estudo inédito sobre a percepção, hábitos, utilização e a influência que os livros de auto-ajuda profissional exercem em profissionais e executivos. A pesquisa qualitativa foi realizada com quatro grupos de discussão, compostos por profissionais/leitores, gestores/leitores e profissionais e gestores/não leitores, com idades entre 28 a 55 anos.
  Os resultados da pesquisa apontam que os principais problemas que estes profissionais encontram no trabalho dizem respeito ao relacionamento com pessoas. Motiva-las, gerenciar equipes, administrar conflitos são algumas das dificuldades apontadas pelos entrevistados, e geram ansiedade na busca de uma resolução. É clara a relação entre o cotidiano do trabalho e a busca por livros de auto ajuda profissional . A pressão, o estresse e a sobrecarga do dia-a-dia acabam atropelando o bom senso e o tempo de condução de algumas ações. Neste contexto, o livro de auto-ajuda profissional exerce um papel importante na vida de seus leitores, dando sentido para diversas dúvidas e inseguranças. Por ser uma leitura fácil e acessível, recoloca o leitor diante de alguma situação desejada.
  Segundo os participantes da pesquisa, os livros de auto-ajuda profissional exercem alguma função:

- ocupam um espaço, antes vazio, na busca de respostas;
- preenchem as expectativas de dar rumos a situações obscuras;
- oferecem maior segurança para lidar com o cotidiano de trabalho,
- encaminham ações e confirmam ou criam novas perspectivas ou percepções.

  Outra função essencial desta literatura é a de “humanizar” o ambiente de trabalho. As pessoas acabam recorrendo a um recurso impessoal (livro) para justamente combater a frieza e impessoalidade do trabalho. Nesse aspecto, ele cumpre a função de substituir a relação com o outro (chefe, pai, conselheiro ou qualquer outra autoridade), uma vez que o outro não está sempre disponível, não está na ‘prateleira’. O livro serve, então, como um mediador mudo das relações.
  Em geral, os livros são indicados ou recomendados pelos colegas de trabalho, amigos e parentes. Muitos também escolhem os livros pela indicação de revistas, na internet ou mesmo sem critérios: simplesmente vão à livraria e compram o livro com o tema ou título mais interessante.
  A percepção sobre os resultados e eficácia desses livros, porém, varia muito entre as pessoas. O estudo detectou uma segmentação, com 5 perfis distintos, que varia de acordo com o interesse e a relação entre o leitor e o livro.

  • Religiosos: Sempre estão lendo algum livro de auto-ajuda. Recorrem a eles sempre que necessitam e tentam convencer colegas e amigos sobre a importância dos efeitos da leitura.
  • Criteriosos: Selecionam a leitura por temas relevantes. Lêem livros indicados e recomendados por conhecidos e têm noção que aproveitarão apenas parte do conteúdo, e não o todo.
  • Enrustidos: Afirmam que até podem ler, mas tendem a explicar muito que é uma leitura ocasional. Não assumem nada que comprometa sua imagem de leitor independente e eventual. Sabem que há preconceito, e preferem evitar críticas e confrontos.
  • Complacentes: Mesmo recomendados, os livros de auto-ajuda são vistos como superficiais e pouco convincentes. Acreditam que é um nicho importante para algumas pessoas e tendem a aceitar aqueles que lêem.
  • Céticos: São muito críticos em relação a essa literatura e a seus leitores. Acreditam que esses livros são totalmente comerciais e de aproveitamento “zero”. Defendem outros meios de desenvolvimento profissional.

  Entre os adeptos (religiosos e criteriosos), muitos chegam a dizer que se formam e desenvolvem praticamente apenas com os livros de auto-ajuda. Em alguns grupos, ler é uma forma de pertencer a estes grupos.
  Os que encaram este tipo de literatura com mais reservas reconhecem a superficialidade com que os temas são abordados, além da padronização e estilo comercial de seu conteúdo. Acreditam que seus leitores são pessoas inseguras, que buscam respostas apenas em referenciais externos.
  A pesquisa também indica que os profissionais podem ser induzidos à leitura pelas empresas, sob diversas formas. Em muitas organizações, os livros de auto-ajuda servem como um dos recursos utilizados pela área de RH para se aproximar do funcionário. Em outros casos, os livros são recomendados pelos gestores às suas equipes. E há também cursos e treinamentos em que a leitura destas obras é indicada ou exigida como parte do processo.
  Os resultados do estudo revelam que a própria área de RH oficializa a indicação destes livros e que muitos adeptos formam-se e desenvolvem-se principalmente com este tipo de ajuda. Alguns dados merecem reflexão: o que isto significa em termos de consistência nas atitudes profissionais e qual o real impacto para os negócios?. Será que os líderes e gestores são formados desta maneira? Até que ponto isso é benéfico? A postura do gestor que também indica livros de auto-ajuda para os seus colaboradores, ao tomar esta atitude está substituindo o seu papel de ‘coach’ ou faz parte deste papel?
  Na verdade, o livro de auto ajuda profissional fala o que o chefe quer ou deveria falar: um diálogo mediado por um mudo.
  Mercadologicamente falando, os livros de auto ajuda profissional vêm ocupar uma lacuna muito presente nas empresas nos dias de hoje, com funcionários pressionados e pouco sustentados para lidar com estas variáveis. Por outro lado, podem mascarar uma real necessidade mais efetiva. É um nicho bem explorado por editoras, autores, empresas e o público leitor cada vez mais vulnerável a tanta exposição.

Veja a apresentação completa no site www.ateliedepesquisa.com.br

 

VICIADOS EM TECNOLOGIA

  Há alguns anos eles já sinalizavam uma nova tendência, mas ainda eram muito novos para serem levados a sério. Agora que a chamada Geração Digital (formada por jovens que nasceram em meados dos anos 80) já está com idade suficiente para tomar suas próprias decisões, fica mais visível quem são, e a forma como estão se definindo as novas regras do seu consumo. Assim como os representantes mais velhos da Geração X (seus antecessores), a Geração Digital (também definida/conhecida como Geração Y) está identificada com o forte (?) uso da tecnologia. Mas enquanto o computador era o maior ícone dos jovens de ontem, os de hoje já incorporaram intensamente esse equipamento ao seu cotidiano, elegendo, pelo seu lado, o telefone celular como símbolo deste novo momento. Hoje, em qualquer lugar, sozinhos ou em grupo, estes jovens estão manuseando, falando, testando e descobrindo novas formas de interagir entre eles através do seu aparelho.
  Cada dia que passa, este pequeno objeto se reveste de maiores significados e de poder. E ao que tudo indica, essa relação utilitária tende a se acentuar ainda mais, devido aos avanços tecnológicos cada vez mais surpreendentes que, aliados ao design, tornam o celular, por um lado um verdadeiro objeto de desejo e de diferenciação grupal, por outro uma condição para se relacionar entre si e com o mundo. Atentos a essas tendências, os fabricantes não só estão criando produtos cada vez mais modernos e sofisticados, como também agregando recursos de outros equipamentos e mídias ao celular, o que vem sendo chamado de “convergência tecnológica”. Por meio do celular, além do objetivo básico que é falar, também é possível enviar mensagens, jogar, assistir a programas de TV, tirar fotos, filmar, ouvir rádio, receber notícias, acessar internet, entre muitas coisas. Enfim, com a chegada de uma nova geração tecnológica, esses recursos certamente serão ainda mais ampliados.
  sta moçada nasceu e cresceu com um computador à disposição e ganhou intimidade com um telefone celular muito cedo. Portanto, tem infiltrado na própria pele a percepção de mundo através da tecnologia, da estética, da velocidade. Não concebem mais o seu cotidiano sem estes “acessórios” (que já se tornaram roupagem) – não dá para viver sem eles. Não há no repertório destes jovens a experiência capaz de fazer de forma mais artesanal, manual, o que eles fazem com computadores e celulares.
  A tecnologia, neste caso, é um exemplo rico e ilustrativo, mas uma análise sobre o impacto provocado pelo amadurecimento da Geração Digital não pode se limitar a descrever como os jovens lidam com os aparelhos, mas sim de como eles estão mudando a sua forma de se comunicar, se informar, se divertir e, principalmente, de se relacionar com as pessoas. A forte interatividade, acompanhada da virtualidade e da comunicação à distância, são temas que merecem uma atenção especial. Se a virtualidade é algo que não existe como realidade, mas que é tão próximo da verdade/real que muitas vezes pode ser considerada como tal, como ficam os principais valores do relacionamento interpessoal, tais como encontros, afetos, sexo? Se de um lado amplia a potencialidade de contatos, por outro restringe as formas tradicionais de trocas. Se consegue diminuir fronteiras pela agilidade da comunicação, também aumenta a distância entre as pessoas de buscarem as formas mais simples de aproximação – a pessoal, por exemplo. Se é um facilitador, é um aprisionador também. Como seria para estes jovens um cotidiano sem a possibilidade de teclar ou ouvir um toque?
  A geração totalmente tecnologizada está virando adulta agora. Não há dúvida de que será uma geração mais antenada e conectada com o mundo. Mas, como vai lidar com os relacionamentos mais duradouros e maduros? Como será o convívio pessoal freqüente? Como vai administrar conflitos? Será um ser mais solitário ou mais agregador? Qual será o grau de aprofundamento dos temas existenciais e tão essenciais às relações humanas? Estas são questões que merecem uma reflexão e um olhar mais atento para o futuro.
  Não há pretensão de responder a todas estas difíceis questões, uma vez que ao longo do tempo as ciências sociais (psicologia, ciências sociais, antropologia, ....) se encarregarão de ir atrás de respostas que possam compreender melhor os efeitos destas intensas novidades na vida destes jovens. Do lado do mercado, as empresas que atuam diretamente na inovação e criação de novos designs e tecnologias, poderão se ocupar de conhecer em profundidade os hábitos, atitudes e comportamentos relacionados aos novos tempos, como forma de estar cada vez mais próximos de seu público.

* Suzy Zveibil Cortoni é psicóloga e diretora da ComSenso Agência de Estudos do Comportamento